domingo, 5 de junho de 2011

Capítulo 3 - Os Índios Apaches Colombianos da Pracinha



Acordou com Cacau gritando. Não, ela não estava ferida, era o jeito dela dizer bom dia. Ela latia de maneira desafinada e estridente, sapateando e sem permitir que alguém a segurasse. Cacau era uma cachorra muito estranha...

O latido ecoou em sua cabeça e teve vontade de trocar Cacau por um gato. Levantou-se e, depois de escovar os dentes, arrastou-se até a mesa da cozinha. Seu pai lia o jornal. Sua mãe tomava o café tranqüilamente.

– Bom dia, meu anjo! – disse-lhe o pai, largando o jornal para lhe dar um beijo.

Sua mãe a beijou também e voltou para seu café.

– Você andou comprando livros pela Internet de novo? – perguntou sua mãe. – Cuidado para não estourar sua mesada! Ainda estamos no meio do mês.

Bianca a olhou confusa.

A mãe lhe entregou um pacote que estava sobre a mesa. Bianca o pegou intrigada.

– Chegou hoje de manhã, deve ter tido uma taxa de urgência pra chegar tão cedo!

Bianca abriu o pacote, estranhando não ter remetente. Não comprara nada recentemente. O que seria aquilo?

– Que lindo! – sua mãe esticava o pescoço para ver melhor a capa colorida.

Era um livro de capa dura que trazia belas ilustrações de um mundo antigo. O título era “No Mundo das Fadas”. Bianca o folheou. Dentro, tinha informações sobre o mundo dos elementais com ricas ilustrações. De belas fadas com asas de borboleta a bizarras criaturas com aparência de morcegos demoníacos, o livro era um compêndio de seres que supostamente, viviam em outro mundo. Definitivamente, não comprara aquele livro. Então, de onde ele viera?

Nesse dia, esteve em todas as aulas, embora estivesse de fato em outro lugar muito distante. Por dentro do livro de Matemática ou História, o livro das fadas revelava seus segredos à menina curiosa.

Quando chegou em casa já tinha lido o livro praticamente inteiro. Tentou juntar as peças. Ela pedira pistas, as pistas estavam chegando. De maneira bizarra e inesperada, mas estavam chegando. Mãe Tetéia disse que Analice não estava no Reino dos Mortos. Mas fosse lá onde ela estivesse, Mãe Tetéia não conseguia ver se ela estava bem ou mal. Talvez, Mãe Tetéia só tivesse acesso ao Reino dos Mortos e ao Reino dos Vivos. Poucas pessoas têm acesso ao Reino das Fadas, por exemplo. No dia seguinte, recebera pelo correio um livro falando do Mundo das Fadas e dos elementais do Ar. Não podia ser coincidência! E não podia se esquecer da pista mais importante, justamente a primeira que foi ignorada. A última mensagem do espírito com quem falavam no do tabuleiro oui-ja foi “Cuidado! Fadas!”.

Bianca entrou em seu quarto sem acreditar que pudesse ter ignorado algo tão óbvio! Logo ela que era tão boa em adivinhar fins de filmes! Bom, então agora estava no caminho certo. Mas e daí? O livro falava de muitas lendas irlandesas, muitos contos de fadas, muitas criaturas, mas não era muito preciso sobre como chegar até esse reino. Se Analice estivesse realmente lá, como poderia chegar até ela? Esticou a cabeça pela janela e gritou para o alto:

– MAIS PISTAS!!!

Então, desceu para o almoço, onde a mãe a esperava.




Comiam em silêncio enquanto a cabeça de Bianca não parava de funcionar com as infinitas e loucas possibilidades.

– No que está pensando? – perguntou a mãe.

– Hum? – Bianca saía de suas complicadas engrenagens pensantes. – Em nada. Quer dizer, em tudo. Mãe, já ouviu alguma coisa sobre o reino das fadas?

– Só o que dizem os contos de fadas... Por quê? Está planejando suas férias?

Bianca achou melhor não falar muito sobre o que estava pensando. Sabia que seu pai não estava muito feliz com essas incursões em mundos invisíveis e coisas inexplicáveis e temia que os pais a proibissem de continuar sua busca.

– Não, só estava curiosa sobre aquele livro que comprei.

– Se quiser, podemos ir na locadora e ver se tem filmes a respeito.

– Eu adoraria!


Era uma quarta-feira, dia de desconto na locadora e também o dia em que seu pai ia mais cedo pra casa. Junto com sua mãe, Bianca escolheu quatro filmes sobre fadas ou algo parecido. “As Fadas de Conttingley”, “As Crônicas de Spiderwick”, “Tinker Bell” e “O Labirinto do Fauno”.

Viram os três primeiros juntos, numa maratona que não faziam há muito tempo. Seu pai e sua mãe estavam sempre fazendo comentários animados e sempre terminavam rindo muito. Comeram pipoca e tomaram refrigerante. Depois, pediram pizza e seu pai fez suco de frutas bem gelado. Terminaram a noite com sorvete com bolo de chocolate. Foi um dia de excessos, mas foi muito bom. Durante aquelas horas, Bianca chegou a esquecer porque estava vendo aqueles filmes. Esqueceu-se do vazio ao seu lado, da falta de notícias, da preocupação pela amiga desaparecida. Por algumas horas, despediu-se do mundo e refugiou-se nos braços de seus pais e no mundo de fadas e duendes. E como precisava disso!...

Depois de seis horas de filme, seus pais pediram clemência e foram dormir. Bianca lamentou, mas compreendeu. Era tarde e não era sábado. Era quarta. Como a promoção era apenas para um dia, Bianca recarregou as baterias com mais um pouco de sorvete com bolo de chocolate e encarou o último. Com certeza, seria mais uma experiência animada sobre este reino amigável que é o mundo das fadas.

Ela não poderia estar mais enganada. Deixado por último, O Labirinto do Fauno foi levado por parecer mais uma fábula infantil de fadas e criaturas encantadas. Sua mãe tinha por hábito não ler as sinopses atrás das caixas, mania que adquiriu depois que dois ou três filmes foram estragados para sempre por que um imbecil não sabia o que revelar e o que ocultar ao escrever uma simples sinopse. Assim, todo filme que entrava naquela casa era uma surpresa.

Bianca encerrou seu dia encolhida de olhos arregalados e abraçada a uma almofada. Desligou a TV e correu miudinho para seu quarto, acendendo a luz assim que chegou. Fugiu pra cama e agarrou Cacau, que não gostava de ser agarrada e logo a empurrou de volta, fazendo força nas patas, mostrando como era desagradável que aquela humana a apertasse. Bianca não a soltou. Depois daquele filme, depois do que vira, precisava de algo que lhe desse coragem para ir até o mundo das fadas em busca da amiga. Naquela noite, teve muitos pesadelos.


A quinta-feira chegou e decidiu finalmente visitar os pais de Analice. Para sua surpresa, nenhum deles estava na cidade. O pai chegara a vir no primeiro dia das investigações, assim que ela desaparecera, mas teve que partir em uma viagem de negócios dois dias depois. A mãe estava na Suíça e ainda não pudera voltar. Quem lhe contara o paradeiro dos dois fora Tia Agnes, que passava tempo demais olhando para o microondas. Bianca deixou o apartamento de Tia Agnes com um nó no estômago. Como os pais de Analice podiam ser tão... indiferentes? Lembrou-se de um dia em que Analice tinha ido ao cinema com ela e seus pais. Flagrara a amiga olhando longamente para seus pais na hora do lanche. Mais tarde, ela lhe confidenciara como gostaria de ter os pais de Bianca.

– Você gostaria de ser eu, então? – perguntou Bianca.

– Não, você é maluca – respondeu a amiga. – Mas gostaria que seus pais fossem os meus... Eles são tão perfeitos! Eles se amam de verdade, dá pra sentir. E são tão bonitos!... E estão sempre com você! Vocês parecem um comercial de televisão... Bianca, você não sabe a sorte que tem...

Na época, Bianca achou que a amiga estava apenas saudosa da antiga família, agora desfeita. Era comum que as pessoas se separassem. Cada vez mais incomum eram as pessoas que ficavam juntas. Seu pai costumava lhe dizer, com seu sotaque francês ainda evidente, que o mundo moderno era muito rápido e as pessoas tinham pouca paciência umas com as outras. Por isso, preferiam desistir assim que um defeito viesse à tona. Mas quando as pessoas se amam de verdade, elas acabam percebendo isso e voltando para a pessoa amada. No fundo, no fundo, Bianca sempre acreditou que os pais de Analice voltariam a ficar juntos e ela voltaria a ter sua família. Agora, no entanto, percebia que era pura ilusão. Aquelas pessoas nunca se amaram de fato. Não amavam ninguém além de si mesmas. A única filha sumira e o que eles faziam? Continuavam suas vidas...

Bianca parou no meio da calçada. E o que ela estava fazendo de diferente? Também ela não voltara às aulas? Não estava ela também vendo filmes com sua família, comendo pipoca como se Analice nunca tivesse feito parte de sua vida? O que ela estava de fato fazendo, além de ver filmes e ler livros?

E o que ela poderia fazer?...

Ouviu uma música. Estava na cidade, era normal ouvir música. Mas essa música era diferente. Tinha flauta e violão e acordes muito suaves. Seguiu a música e chegou na praça, onde um grupo de colombianos vestidos de índios apaches tocavam músicas com inspiração indígena. Não era tão estranho como se poderia pensar. Eles já faziam parte da cidade. Bianca ficou diante deles, ouvindo a música, procurando um pouco de consolo em suas notas. Então, algo bizarro aconteceu. Um dos índios se aproximou dela e perguntou:

– Bianca?

– Sou!...

O índio então deu sinal para os outros, que imediatamente trocaram a canção. Começaram a cantar e tocar Blue Moon.

Bianca ficou paralisada. Olhou em volta e não viu ninguém conhecido. Alguém estava lhe mandando um recado. Quem?

Tentou se concentrar na música. Se era um recado, era importante que prestasse atenção.

Blue moon, you saw me standin' alone
Without a dream in my heart, without a love of my own
Blue moon, you knew just what I was there for
You heard me sayin' a prayer for
Someone I really could care for

And then there suddenly appeared before me
The only one my arms will ever hold
I heard somebody whisper "please adore me"
And when I looked, the moon had turned to gold

Blue moon, now I'm no longer alone
Without a dream in my heart
Without a love of my own…

Quando terminaram, Bianca continuou parada, esperando algo acontecer. Nada aconteceu. Ela agradeceu e saiu. A música tinha juntado uma pequena multidão e Bianca estava constrangida, imaginando que todas aquelas pessoas estivessem pensando que ela estivesse recebendo uma jura de amor de algum namorado muito romântico. Somente em casa, de noite, pensou que poderia ter perguntado aos índios quem lhes encomendara a música. Infelizmente, quando pensasse nisso, já seria tarde demais para conseguir a informação (o que teria feito toda a diferença nessa história).

Chegou em casa e entrou na Internet. Havia uma mensagem importante nessa música. Só precisava descobrir. Baixou a letra e a tradução, pois seu inglês não era lá essas coisas.

Lua triste, você me viu esperando sozinho
Sem um sonho em meu coração, sem um amor que fosse só meu
Lua triste, você sabia exatamente por que eu estava ali
Você me ouviu pedindo em oração
Por alguém com quem eu pudesse realmente me importar

E então, de repente, apareceu diante de mim
A única pessoa que meus braços irão abraçar
Eu ouvi alguém sussurar “por favor, me ame”
E quando eu olhei, a lua tinha se transformado em ouro

Lua triste, agora eu não estou mais só
Sem um sonho em meu coração
Sem um amor que seja só meu…

Leu a canção. Fez um bico enquanto franzia as sobrancelhas. Leu de novo. O que diabos aquilo queria dizer? Será que era um recado para dizer que Analice estava sozinha e infeliz? Talvez fosse um pedido de socorro! Apavorou-se, deixando a música de lado e procurando alguma coisa sobre o reino das fadas. Era para onde suas pistas apontavam.

Um site lhe chamou a atenção. Nele, um pequeno texto informava os reis elementais de cada reino e seu anjo responsável. Mikhael ou Miguel, o anjo guerreiro, era o regente do Reino Elemental do Fogo, onde Djinn era o Rei. Uriel era o regente do Reino Elemental da Terra, onde Chobb era o Rei. Gabriel era o regente do Reino Elemental da Água, onde Niksa era a Rainha. E Rafael era o regente do Reino Elemental do Ar, onde Paralda era a Rainha.

Então, deduziu, para chegar ao Reino das Fadas, teria que pedir a ajuda de um anjo? E como faria isso? Talvez, se conseguisse falar com Rafael, ele pudesse simplesmente devolver Analice e pronto! Não seria ótimo?

Um barulho de vidro estilhaçado a vez instintivamente se abaixar. No meio do seu quarto, uma pedra embrulhada em um papel, aguardava parada no tapete. Bianca correu até a janela para ver se conseguia ver o vândalo, mas não viu nada. Foi até a pedra e desembrulhou-a. O papel era uma propaganda sobre a Floresta da Tijuca e seus recantos.

– Esse é o marketing mais agressivo que já vi...

Jogou a pedra e o papel na lixeirinha e foi pegar a vassoura para varrer a bagunça, antes que sua mãe chegasse em casa.

2 comentários:

  1. Eddie,essa história está ficando cada vez mais emocionante! Comprar o livro tornou-se uma necessidade agora. *¬* (babando)

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  2. eu amei este livro e realmente concordo este se torna um necessidade depois de ler algumas paginas eu fiquei de 12:00 horas ate 23:30 da noite lendo este livro ficaram todos dizendo que eu estava louca em ficar tanto tempo lendo um livro eu sinceramente não me arrependo de ter ficado tantas horas lendo teve um momento que eu morri de sono e dizia quando chegar em tal pagina eu paro mas cada pagina que eu virava era uma aventura que para mim eu estava vivendo aquilo eu ria eu chorava eu ate brigava com bianca as vezes no final chorei tanto por pela morte de zac foi meio triste o final mas mesmo eu adorei foi uma avento ler este livro foi como se eu vivesse aquilo foi como se eu fosse bianca sentido tudo oque sentia por zac por um momento cheguei a pensar que eu realmente era bianca pois quando eu lia aquele eu fugia da realidade e pra mim aquilo era minha vida eu dentro um mundo que nunca havia ido com tão especial resumindo eu me apaixonei por esse livro você deveria fazer o 2 com bianca em novas aventuras com zac e os dois a cada minuto descobrindo que se amavam mais ainda.

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