quinta-feira, 2 de junho de 2011

Capítulo 1 - Um resultado inesperado



Você já viveu um dia de caos? Não é só um dia em que tudo dá errado, mas um dia realmente caótico, com pessoas desconhecidas invadindo a sua casa e lhe fazendo perguntas sem, no entanto, ouvir suas respostas, numa confusão de cheiros de colônia barata e cigarro que faz sua cabeça doer. Um dia de muitas vozes, muitas perguntas, muitos rostos, nenhuma resposta. Esse era o dia de Bianca.

Sua mãe conversava com um detetive que tinha um bloco nas mãos e um óculos na ponta do nariz. A mulher de longos cabelos escuros semi presos lançou-lhe um olhar e tentou sorrir, para tranqüilizar a filha adolescente, mas a preocupação era evidente.

– Você viu alguém seguindo vocês duas nos últimos dias, algum estranho?

Bianca olhou novamente para a detetive de cabelos enrolados e curtos que lhe fazia as mesmas perguntas há pelo menos 300 horas. Tudo bem, eram 45 minutos. Bianca sempre foi meio exagerada. Mesmo assim, podemos dizer que, numa situação como aquela, aquele caos dentro de sua casa e dentro de sua cabeça pareciam realmente ter começado há mais de 300 horas.

– Não... Não vi ninguém...

Bianca respirou profundamente enquanto a moça anotava alguma coisa em seu bloco.

– Conversaram com alguém, um vendedor, uma pessoa no ônibus ou...

Nesse momento, as vozes na casa pareceram tão altas que Bianca achou que sua cabeça ia explodir. As perguntas se repetiam eternamente sem chegar a nenhum lugar. Parecia Lost! Foi quando a adolescente de cabelos escuros e ondulados se levantou e gritou, calando todas as vozes ao mesmo tempo.

– Não! Não vimos ninguém! Não falamos com ninguém! Eu já disse o que aconteceu! Analice não foi raptada por humanos! Ela foi levada por seres invisíveis! Ela estava aqui num minuto e, no minuto seguinte, não estava mais!!! Quantas vezes vou ter que explicar a mesma coisa até vocês, suas topeiras, entenderem o que aconteceu?!

Bianca olhou em volta. Cerca de cinco homens, a detetive que tomava seu depoimento e sua mãe olhavam paralisados para ela. Sentiu-se invadida pelos olhares que pareciam julgá-la louca. Foi nesse momento que um homem de cabelos negros como as asas da graúna e barba finamente feita entrou com uma maleta, o olhar preocupado se encontrando com o olhar assustado da menina. Bianca então correu para o pai como quando era uma menininha e, abraçada a ele, chorou. Chorou porque ninguém acreditava nela, chorou porque estava assustada, chorou porque sua melhor amiga sumira e chorou, principalmente, porque achava que tudo aquilo era culpa sua.


Cerca de três horas antes do caos, a casa estava em absoluto silêncio. As duas meninas estavam na sala cercadas por livros, testemunhas mudas e atentas do estranho experimento. Leram as instruções no bizarro livro de capa preta, acenderam a vela, colocaram perto um copo com água e a fumaça de um incenso de mil flores espiralou por toda a sala, fazendo desenhos e espalhando seu perfume. Respiraram profundamente e se concentraram. Tocaram os dedos no copo e fizeram a pergunta que dá início a toda sessão de oui-ja:

– Há alguém presente?

Quando o copo se moveu, Bianca gritou e quase saiu correndo, não fosse a amiga segurar seu pulso e fazê-la se comportar decentemente.

– Não fuja! – disse Analice – Não se esqueça de que não podemos deixar o portal aberto, ou seres podem vir aqui e não voltar para o lugar deles!!!


Bianca, apavorada, olhou nos olhos da amiga e se acalmou, voltando a pousar o dedo sobre o copo invertido. Surpreendeu-se como Analice, que sempre parecia tão tímida, podia ser tão firme em situações inesperadas, como da vez em que uma professora as acusou de colar. Analice debateu firmemente com a professora e provou seu ponto, sem baixar os olhos ou se intimidar.

Você deve estar achando que Analice é uma adolescente esquisita. Bom, até é. Mas se você me apontar um adolescente que não seja esquisito, eu te dou um doce. Porém, é preciso admitir. Há níveis de esquisitices, tanto em adolescentes quanto em adultos. Digamos que o ponteiro do esquisitômetro oscilava acima da média com Analice e Bianca, embora fossem esquisitices diferentes. Analice, por exemplo, parecia uma pessoa paradoxal. Preciso lhe explicar como ela consegue ter duas facetas aparentemente opostas. Em primeiro lugar, a timidez tem várias raízes e não implica em covardia, hesitação ou insegurança, embora muitos tímidos sejam todas essas coisas. E Analice nem sempre fora tímida. Podemos dizer que ela estava tímida.

Analice estava vivendo uma fase muito estranha. Seus pais haviam se separado há pouco mais de um ano. Mudara de escola. Mudara de casa. Mudara de vida. Tudo isso em um único mês. Mas a sua maior surpresa mesmo foi a conversa que seus pais tiveram com ela quando se decidiram pela separação. Ela esperava que lhe perguntassem com quem gostaria de ficar, o que por si só fez seu coração partido se desesperar. Como se escolhe isso? Estava tão absorta em como iria fazer essa escolha que não entendeu quando os pais lhe deram a resposta pronta.

–...e por isso sua mãe e eu achamos melhor você ficar com sua tia Agnes...

Analice piscou várias vezes enquanto seu pai continuava falando. Então ela o interrompeu.

– Como é?

Os pais se entreolharam, como se tivessem sido descobertos no flagrante em algum tipo de esquema.

– Compreenda, minha amada – continuou sua mãe, segurando suas mãos, – seu pai tem o trabalho dele e a mamãe finalmente tem a oportunidade de realizar o sonho da vida dela de ter sua própria empresa e fazer uma faculdade... Você já é uma mocinha, e sua tia Agnes vai adorar ter você por perto.

– Minha tia Agnes pensa que o microondas é a televisão!

– Mais um motivo para vocês morarem juntas! – continuou seu pai. – Ela precisa da sua juventude, você precisa da experiência dela. E você passará os fins de semana comigo e sua mãe!

– A não ser que estejamos viajando, claro, mas seu pai tem razão! Teremos fins de semana e férias juntas! Não será ótimo?

Bem, foi assim o início da timidez de Analice. Até então, ela era popular e feliz. Tinha uma família perfeita e uma casa bonita. De repente, tudo virou fumaça. Até ela.


Bianca estava em sua cama, finalmente em silêncio. Seu pai entrou com uma caneca de chocolate quente cremoso que só ele sabia fazer. Sentou-se na beirada da cama e a menina se ajeitou, pegando a caneca da mão dele. Aquilo sempre a fizera se sentir melhor.

– Como vamos fazer então? Pra achar Analice? – perguntou ela.

– Acho que devemos deixar isso com a polícia, meu anjo.

– A polícia não vai encontrá-la! Eu lhe disse o que aconteceu!

Seu pai, um belíssimo moreno de rosto quadrado e olhos penetrantes e um leve sotaque do qual nunca conseguira se livrar, olhou para baixo por alguns segundos.

– Não acredita em mim... – deduziu Bianca, nitidamente magoada.

– Acredito, meu anjo, acredito... Mas preciso que você veja o mesmo evento por outros ângulos. Lembra que sempre lhe disse que isso a ajudará a resolver problemas por toda a sua vida? Então, tente pensar nisso: vocês estavam lidando com uma experiência sobrenatural, como nos filmes de terror. Uma ventania abriu a porta, Analice se assustou e correu, e você simplesmente não a viu sair.

– Mas...

– Quero que me diga se isso pode ter acontecido! Apenas pense se pode ter acontecido.

Bianca pensou por alguns segundos. De fato, não vira Analice sumir, literalmente. E sabia que ela própria podia saltar e correr tão rápido quando uma barata aparecia que muita gente podia jurar que ela desapareceu. Concordou levemente com a cabeça.

– Então, não se precipite. Aposto que amanhã teremos notícias de Analice e tudo ficará bem.

Ele lhe deu um beijo na testa e deixou o quarto. Na porta, sua mãe observava recostada no batente. Entrou e lhe deu um beijo também, dizendo-lhe que precisava descansar. As coisas sempre pareciam mais claras depois de uma noite de sono. Bianca terminou o chocolate e apagou a luz do abajur que espalhava estrelas pelo quarto.



“SIM”.

Foi a primeira resposta. O copo se moveu, primeiro com hesitação e depois cada vez mais rápido, ligando letras que formavam palavras e sentenças. De repente, nem Bianca, nem Analice estavam com medo ou nervosas. Estavam, na verdade, muito animadas com aquela divertida conversa com alguém “do outro lado”.

– Como é aí? – perguntou Analice.

– B-O-N-I-T-O.

– Você pode ver o futuro? – perguntou Bianca, muito mais preocupada com seu próprio mundo do que com o mundo de seu novo amigo.

– “SIM”.

– Pode nos dizer algumas coisas? – perguntou novamente, animada.

– “TALVEZ”.

Não é difícil imaginar as perguntas que elas fizeram a partir daí. Se você tivesse a oportunidade de perguntar coisas a alguém que podia ver além, o que perguntaria? As duas amigas perguntaram o que quase todo mundo perguntaria. Se iriam casar, com quem, se continuariam amigas, se Jônatas, o garoto que senta lá na frente, gosta mesmo de uma delas, e quais os números da Mega Sena para essa semana. Quando os números dados pelo espírito foram 1, 2, 3, 4, 5 e 6, elas desanimaram. Se ele estava brincando com aquilo, poderia estar brincando com elas o tempo todo.

– Ah, qual é? – reclamou Bianca. – Vai querer que a gente acredite nesses números?

Subitamente, o copo pareceu se mover muito mais rapidamente, como se tivesse muita pressa em dizer alguma coisa.

C-U-I-D-A-D-O

Elas se entreolharam confusas.

– Cuidado? Cuidado com o quê? – perguntou Bianca.

F-A-D-A-S

Nesse exato instante, a porta da sala que dava para o jardim e que Bianca jurava que estava trancada se abriu com grande estardalhaço, deixando entrar uma ventania que parecia preceder uma grande tempestade. As meninas gritaram e, ao se levantarem, derrubaram o tabuleiro e o copo se partiu. A vela se apagou e o vento entrou como se fosse uma cavalgada de valquírias ensandecidas, derrubando vasos e jogando livros longe, enquanto folhas verdes e marrons faziam redemoinhos diante de seus olhos.

Das profundezas de sua memória, Bianca desenterrou, empurrada pela emergência, um pedido de socorro que lera em algum desses livrinhos de banca sobre magia wicca.

– Em nome das bruxas ancestrais e de todos os elementais, eu te ordeno que vá embora e não volte nunca mais!!!

A ventania cessou. Bianca, mal sentindo as pernas e suando frio, olhou a sala cheia de folhas, com alguns vasos derrubados e livros pelo chão. Respirou fundo, aliviada.

– Ainda bem que estamos sozinhas, Analice... Já imaginou se minha mãe vê essa bagunça?

Não teve resposta. Olhou em volta, procurando pela amiga.

– Analice?

Procurou pela sala, chamando a amiga. Correu pela casa, gritando seu nome. Não a encontrando, voltou para a sala e correu para o jardim bem cuidado para o qual a porta se abrira tempestuosamente. E ali gritou o nome da amiga até ser sufocada pelos soluços e lágrimas.

12 comentários:

  1. Nossa muito bom ... isso mostro como temos que tomar cuidado quando abrimos uma porta desconhecido e como temos que ter a cabeça firme e palavras fortes para não acontecer nada de mal.

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  2. Olá Eddie! como está? espero que bem!
    eu vim através desse comentário lhe trazer algumas dicas...
    Lendo esses capítulos inicias do seu novo livro, percebi que vc tem muito potencial para criar histórias. Lua das Fadas tem uma trama muito legal e interessante, porém, o livro poderia ser melhor! Perceba que nos primeiros parágrafos as frases saem com pouco anexo e ao decorrer do livro, as situações são pouco detalhadas e escritas muito rapidamente, o que gera um livro com poucas páginas e uma sensação de "é só isso?" no leitor. Não fique eufórica quando for escrever um novo livro, pense com calma e não deixe que seus gostos, emoções e situações do dia-a-dia se misturem tanto aos seus livros. Peça às vozes que ditem com calma e vá anotando as idéias que surgirem, poisquando for a hora de usá-las vc vai saber! A inspiração para escrever esses contos geralmente vem de outras dimensões, mas que escreve o livro é você. ;)

    De uma pessoa que lhe deseja muito o bem, Ricardo Lima.

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  3. Oi, Ricardo! Nossa! Valeu mesmo pela dica! Adorei! Sim, eu fiz esse livro correndo, mas não senti que estava correndo, dá pra entender? Acho que a narrativa dele é realmente meio rápida demais, eu gostaria de ter desenvolvido mais mesmo. Se você der uma lida, no entanto, no texto final, verá que a narrativa muda, fica mais detalhada, mais lenta. Tive pouco tempo para escrever este livro, mas eu também tinha um limite de páginas. Eu não podia passar de 270. Em Uma Guerra de Luz e Sombras, não tive limites nem de tempo, nem de espaço, e o livro está com uma média de 700 páginas. Com certeza, está bem mais detalhado. Espero que Lua das Fadas o divirta mesmo assim! Obrigada mais uma vez e escreva sempre!
    Ah! Só pra lembrar! Esta não é minha primeira ficção. Já publiquei O Portal, o primeiro, e Alcatéia - Prateada. Em breve, colocarei os primeiros capítulos deles nos blogs também! Beijos!

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    1. Eddie posso parecer um pouco chata,mais é que eu gostei muito do livro,e também gosto muito da Ema watson e do Zac efrom,e gostaria de saber se tem filme sobre esse livro tao maravilhoso?

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    2. Ainda não, Glaci, mas é um plano!

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  4. Espero completar toda coleção dos seus livros, tenho a maioria! Blessed-be.
    @jmagister

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  5. EUUU TENHO ADOREI ELE E O MELHOR LIVRO DE FADAS DO MUNDO PRINCIPALMENTE AS FOTOGRAFIAS QUE AO O MASSIMO

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  6. ei alguem me indique um sit pra baixar o filme pq eu terminei de ler o livro atualmente e amei me apeguei muito e estou querendo o filme algora e não encontrei pra comprar então queria um sit para baixar

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  7. Oiie Eddie ! tudo bom com você ?? espero que sim !! Você escreve super bem amei o livro , mas fiquei com muita curiosidade de saber o que vem depois do final , podia ter outra parte do livro , eu já estou ate viajando criando final e etc !! não sabemos o final dela , e essas coisas , se você puder poderia escrever uma parte 2 do livro , ?? e também vim aqui pra falar que eu divulguei seu livro e falei um pouco sobre ele no meu blog aqui o http://make-of-glitter.blogspot.com.br/2012/09/lua-das-fadas-o-que-eu-achei-do-livro.html, parabens pelo livro , passou de todas as coisas que eu imaginei !! Amei muito esse foi o melhor livro que eu ja li !!

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  8. oi Eddie voce vai fazer proximos livros de lua das fadas voce vai fazer a 2 ou a 3,4 ediçao por ai
    estou louca para ler as proximos ediçoes

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  9. adoraria saber se tem o filme

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